28 de dezembro de 2018

As mãos que falam

As mãos esfregando e a recepção do que é bom,
a herança, a ancestralidade, o nome e a fé.
Enquanto ela se permitia ser mensageira e missionária,
eu me permitia conhecê-la e guardar a sua missão.

Em nome, em sangue e em fé sou sua herança,
herdei sua teimosia, persistência ou pode-se dizer determinação.
Um legado de fé, de cuidado, de maternidade e de amor,
ela me deixou pedaços do próprio coração.

Tambores tocam dentro do meu peito,
existe um chamado que deverá ser cumprido,
existe a permissividade de agir como for mais confortável,
a única exigência é que a fé seja acolhedora, como o seu coração era.

Tambores, danças, braços, mãos que se esfregam,
olhos que dizem para persistir, sorrisos e gargalhadas.
Ela me diz em sonho para não temer a minha deixa,
e eu digo em sonho que seguirei suas ordens com todo o amor que me deixou.

Ela não precisou me dizer nada, ela não precisou escrever nada,
ela se foi fisicamente, mas se faz presente em meus dias,
se tornou a luz do meu caminho, o meu guia.
Tambores continuarão a tocar, por você e por todos os seus filhos.

21 de dezembro de 2018

Isso faz sentido?

As malas arrumadas e a esperança na bolsa, no bolso, no peito
pedindo a Deus um pouco de atenção e as lágrimas indicam A sua presença
pedaços de mim pelo chão, braços sem forças e joelhos marcados,
por favor, por favor, por favor responde.

As canções falam de saudade e os meus cacos vibram no chão,
o celular em silêncio, tudo ficando mudo e me sinto perdida.
Eu estou sem chão aqui, alguém pode me ajudar?

Então a saudade fala que quanto menos estiver presente,
ainda mais vou sentir.
Quando mais eu sentir, menos verei.
Isso faz sentido pra você?

A brisa leve anuncia os sinais dos milagres,
minha esperança em prantos recolhe meus pedaços do chão,
e o silêncio dos seus adormecem as dores em meus joelhos.
Ninguém entende, mas até o silêncio é um sinal de fé.

E eu percebo que a saudade tem um leve toque de Deus,
assim eu entendo que quando menos estiver vendo, ainda mais estará comigo.
Quanto mais sentir, menos verei.
Isso faz sentido pra você?
Faz para mim.

16 de agosto de 2018

Héritage

É que ir embora nem sempre é deixar para trás.

Ele arrumou a mala e suas poucas roupas e foi.
Antes parou na porta de um quarto e viu um pedaço seu que deixaria para trás.
Mas ele escolheu ir, para poder ficar.
Ele escolheu ir, para poder ficar e isso é tão contraditório. Não é?
Mas ele só conseguiria ficar perto, se fosse um tempo para longe.
Ele tinha que olhar por fora tudo o que estava acontecendo, para poder ter motivos para estar ali. E ele esteve. Ele está.
É que ir embora não é deixar tudo para trás, por dentro, ele sabia disso.
Ir embora também é uma forma de ficar, é se aproximar, é permanecer e, também, é se despedaçar.
Ele parou, se encostou na porta e escolheu um rumo diferente do que haviam previsto.
Ele escolheu àquilo que pudesse aproximar do que tanto amava. Ele resolveu partir para não ferir, mas ele se feriu, ele sangrou. Só ele sabe o quanto se feriu.
Mas ele lutou, enfrentou e finalmente confrontou seus medos para poder ficar. Ele ficou.
É que ir embora pode ser sinônimo de voltar, de estar, de permanecer.
Ele arrumou suas poucas coisas, quebrou o seu coração e foi. Foi para conseguir ficar.
E eu repeti o que ele fez. Eu fui embora, para poder ficar.
É que ele me deu coragem para confrontar, além do motivo para respirar.
Eu também fui embora, só para ficar ainda mais.

9 de agosto de 2018

É só um vento lá fora...

É só um vento lá fora que agora acompanha a pena azul da gaivota,
Esta que antes parecia apenas uma pétala ainda cheia de orvalho provocado pelo primeiro nascer do sol
E o meu coração ainda ouve o choro da criança desconhecida - hoje tão conhecida, que sorrir quando me ouve falar.
É um cheiro do cachimbo que se expande no ar e ainda reclama de passados que já não voltam mais.
É, só um vento, uma ave, uma pena, uma pétala a fumaça e a lua.
É o prédio cheio de vazios e o desencontro de ter invadido e morado em tantas casas, estas já nem me lembro mais. Acho que ouvi isso na voz de um um poeta.
Somos apenas sombras de canções, de cartões trocados, amores inacabados e novas gerações.
Ainda no quinto andar, ainda buscando a vida no silêncio que grita daquela caixa de joias de uma senhora que mesmo depois de ter ido, continua sendo mãe e amuleto.
Sou apenas o vento que sopra todas as lembranças quase que escondidas, quase que saudosas, quase que esquecidas na manhã do café doce demais, melão maduro e uma camisa verde cana que combina com uma calça lilás.
Sou apenas a foto daquela camisa desgastada, o vestido preto e branco e o Belchior no canto, autografado e amado.
É, de fato, é só um vento lá fora.

22 de maio de 2018

Assum Preto

Eu queria ser sabiá, mas me tornaram assum preto.
Cheia de sentimentos e olhos marcantes,
mas não era tão marcante ao ponto de me cegar
As emoções nos cegam e o mundo fura nossos olhos.

Eu queria ser sabiá, mas me tornaram assum preto.
Minhas canções alegres não serviam, então me colocaram músicas tristes,
e agora sou aquele tal "chão de giz" que diziam.
Compassivo, destrutivo, condoído e doído.
E como tem doído.

Eu queria ser sabiá, mas me tornaram assum preto.
E então todos os meus planos foram trocados,
meus medos se tornaram impulsos nervosos e tremores nas mãos,
alguém poderia me falar qual foi o crime que cometi?!

Eu nasci sabiá, mas cresci assum preto.
E eu estou presa nesta corrente que não me deixa voar,
eu preciso voar, mas será que consigo?
Até minhas asas foram cortadas.
E, em pequenos assovios, partilho minha dor com o mundo,
e muitos se alegram de poder me ouvir cantar a dor.

19 de maio de 2018

Olhe pra mim

Doses de uísque e vodka dobradas,
garrafas soltas e espalhadas no chão.
Minh'alma em pedaços e sorrisos falsos para disfarçar.
Olhe pra mim, olhe em meus olhos e me finalize.

Eu preciso que você acabe com tudo isso,
pare de gritar em minha cabeça e faça.
Sim faça àquilo que veio fazer no momento que entrou em mim.
Olhe pra mim, olhe em meus olhos e me finalize.

Estou encostada no canto da parede, o sangue escorre com a dor,
meu corpo agoniza, mas minha cabeça sente um alívio.
Já não existe mais agonia e angústia.
Sim, ela olhou para mim e me finalizou.

18 de maio de 2018

E o trem não pára!

Eu estou à beira do abismo,
Um trem que se colidiu e não consegue se reconstruir.
Eu sou aquela passageira que não consegue gritar por socorro.
Ela quis estar no trem, ela foi salvar a vida de alguém, mas não percebeu que estava perdendo a dela.

Todos já foram, acabou o show de pedaços humanos e dor,
Mas ela ainda está lá, gritando por dentro, o objetivo de ter entrado naquele trem.

Não, ela não é um caos total. Ainda há uma chama que mostra a importância dela para o equilíbrio do mundo. E é por isso que no meio do choque, ela permaneceu ali.

Sou tão sentimental

Eu estou muito cansada de engolir meus gritos
esconder sentimentos vivos e não poder ser sentimental.
Eu sou tão sentimental e - te juro - prefiro assim.

Ando cansada dessas falsas emoções
Da frieza no olhar e dos momentos de declaração perdidos.
Eu quero poder chorar de rir ou de sentir saudade,
quero soluços e dores na barriga de tanto rir.

Ando tão cansada da angústia no estômago,
do embrulho e do nó na garganta.
Eu quero uma balada nova,
eu quero uma sessão de nostalgia de emoções.

Ah, eu ando tão cansada de sentir a frieza,
quero o calor dos sentimentos, os sorrisos dados de e por graça
Eu sou tão sentimental e - te juro - prefiro assim.

26 de abril de 2018

Apenas mais uma

Você se engana com o tempo, achando que ele vai curar essa dor,
mas os espelhos revelam a tristeza profunda que você carrega.
Você está sozinha,
nada do que você sente será levado a sério.
Não, não adianta chorar, você é apenas mais uma.

O mundo machuca a sua alma,
você sorri por fora e se rasga por dentro,
mas talvez não tenha percebido que nada é do jeito que você queria.
Já percebeu que você estraga tudo com facilidade?
Talvez seja isso que você não tenha visto em sua volta.

As vozes gritam dentro da sua cabeça,
você sabe que nada disso é real.
Mas, talvez, seja apenas o fruto da dor que você plantou.
Já percebeu que ninguém enxerga sua angústia?

Você se isola da felicidade dos outros,
te dói por dentro não conseguir o que tanto quer.
E então você olha os espelhos da sua casa e percebe a realidade mais dolorosa.
Você está sozinha.

25 de abril de 2018

Sim, isso é depressão

E então você muda e amadurece suas ideias,
muda seus pensamentos e seu modo de agir.
Você muda seu modo de amar as pessoas,
seu jeito de sorrir não é mais o mesmo.

Você senta no chuveiro e chora,
as lágrimas saem quentes e isso diferencia a água que cai em suas costas.
Você se desespera e grita em silêncio,
mas isso você não faz questão de mostrar para as pessoas.

E então as pessoas te julgam pelo que você se tornou,
e sua cabeça não entende.
Mas as pessoas não enxergam como sua cabeça está,
as pessoas não vêem quantas noites você adormeceu de tanto chorar.

Quando o momento fala

Será que o silêncio dos cortes diz quem você é?
Será que sua alma gritando dentro do corpo é o que você quer?
E o barulho do seu corpo chegando ao chão pode ser seu grito de socorro?

Quantos cortes no corpo serão necessários para mostrar o quanto está doendo?
E quantas vezes eu posso pedir perdão a mim mesma e não querer apagar meu brilho?
Quantas vezes posso ser eu mesma e aceitar isso?

E todos os dias que seu corpo se arrasta por tristeza pelas ruas
E as pessoas não enxergam o que você está sentindo.
Seus olhos gritam e pedem socorro,
mas sua voz não se permite sair.

E todos os momentos que você vê alguém com os olhos cheios de lágrimas, sorrir
E essa pessoa começa a sorrir, quando quer chorar
Mas você não faz nada a respeito.
Isso não diz muito sobre você?

22 de abril de 2018

Granada

Existe dentro de mim uma granada
Sentimentos que não dissipam
Emoções que não evaporam
Dores que não param de latejar.

Existe uma bomba em mim
Somatiza minha raiva
Explica minha insanidade
Me impede de me desligar.

Eu já lutei,
Eu já tratei,
Já me vinguei tantas vezes
Mas essa bomba não parece desativar.

Prévia de um suicídio juvenil?
Sinopse de um filme dramático?
História de desonra e guerra?
Ou apenas uma jovem, cujos nelas os sentimentos imperam?

Império. Impedir. Impedimento.
Silêncio. Calada. Granada. Monumento!

11 de abril de 2018

Dom ou castigo?



As pessoas não querem saber se você está bem
Desde que você possar fazer curativos em suas feridas
Que esconda seus sangramentos
Que tenha bons conselhos e um ombro para que elas possam chorar.

As pessoas não querem saber se você está bem
Desde que suas dores sejam silenciadas
Que suas lágrimas sejam justificadas com um sorriso hipócrita
E que tudo pareça estar indo bem.

As pessoas não vão se importar se você está bem
Mesmo que você aponte para a sua ferida
Solte frases aleatórias ou figuras para se expressar
Mude seu gosto musical e levante seus dedos cheios de sangue para dizer que tudo está indo bem.

As pessoas não querem saber se você está bem
Nem se você conseguiu sair da cama
Se você está usando sua medicação
Ou se seu psiquiatra sabe o que você sente.

As pessoas não vão se importar se você está bem
Desde que na queda do avião você ponha a máscara em todos
E em seguida grite de medo, todos estarão em pânico e não ouvirão seus gritos
Mas agradecerão por ter escondido os cortes nos pulsos, para secar as lágrimas delas.

As pessoas não vão te ligar
Desde que você esteja ali quando elas precisarem
Que suas fotos sejam cheias de vida
E que a maquiagem esconda bem suas olheiras.

As pessoas não vão te procurar
Mesmo quando você está em agonia no chão,
Seu sorriso escondendo uma imensa depressão
E seus olhos fitarem o céu, para evitar ver a si mesma.

As pessoas vão te jurar que você tem um dom
O dom de aconselhar, acolher e sentir a dor do outro.
Mas os remédios, o uísque, o cigarro e a gilete usada constantemente
Vão te mostrar que você tem um castigo.

As 25 mensagens não lidas, enquanto você estiver sumida te dirão que você tem um dom.
Mas o nó na garganta, a dormência nos dedos, os desmaios no banheiro e os gritos no travesseiro te mostrarão que você sofre um castigo.

As pessoas não vão te procurar
Mesmo que suas mensagens se tornem monossilábicas
Que você desista de mostrar falsos sorrisos
E que se entorpeça de remédios.

O que importa é o seu dom de fazer com que elas se sintam felizes.
Em contrapartida, as cicatrizes te lembram o que é estar mal.
Ninguém vai se importar.

3 de abril de 2018

Sussurros

Manchas de sangue no carpete 
As dores que falam e as asas cortadas
O remorso das palavras que não foram ditas
A carta ainda fechada em cima da mesa.

Manchas de sangue no carpete 
Meu corpo jogado no canto da sala
Pulsos cortados, o cheiro de sangue exala 
Mas a dor do meu peito não parou.

O telefone chama, grita, mas não consigo voltar pro meu corpo
Meu rosto branco, meus olhos parados e sem brilho,
A porta é arrombada e entram três pessoas de branco.
Vejo uma luz nas costas de cada uma.

Eu não sei quem são,
Duas cuidam dos pulsos 
A terceira do coração. 
Choques, gritos, orações.

Eu volto ao meu corpo, 
Sinto o coração pulsar de forma dolorosa,
Sinto os olhos da terceira pessoa sorrindo, por trás da máscara branca.
E as outras duas apenas dizem "graças a Deus".

Em meio a tanta loucura e turbulência 
me pergunto "quem chamou a ambulância?" 

Todos os dias alguém precisa ser salvo,
Este foi o meu dia.

1 de abril de 2018

Nua

Nua, sua, lua e as estrelas a admirar
Jogada, debruçada e perdida em uma vastidão de sentimentos.
Você me largou em meio a uma turbulência,
E neste avião só tinha um paraquedas.

Nua, minha, sol e as nuvens a afirmar
Estou partida em mil pedaços queimados pelo chão,
Cada pedaço de mim transpassando a barreira entre sonho e som.
Já não tenho voz, olhos, braços.

E já não tem mais abraços e laços,
Despedaçada, destroçada, desfeita.
Uma espada atravessou minha medula e a dor não foi tão forte,
Doeu mais te ver ir embora.

E agora já não resta mais nada, já fui rompida
Interrompida
Descabida
Desmedida
Perdida.

24 de março de 2018

Silêncio

E havia silêncio, dúvidas, medo e insegurança,
palavras rasas, sentimentos profundos e danos que pareciam irreparáveis. 
Havia mágoas, náuseas, angústia e agonia,
e restava sentimentos vazios e incompreensíveis.

E como o silêncio era solução de seus danos,
reparação de anos,
constantes respostas de noites de choro.

E o silêncio era resposta as suas dúvidas,
era o melhor lado da história, 
era o que lhe tirava angústias.

E quão enlouquecedor era o silêncio,
doloroso, mas bom de se sentir, 
e então apreciei de fato essa loucura que o silêncio me causava.

- O silêncio é maravilhoso, afinal, pode ser resposta, solução e enlouquecedor. -