9 de agosto de 2018

É só um vento lá fora...

É só um vento lá fora que agora acompanha a pena azul da gaivota,
Esta que antes parecia apenas uma pétala ainda cheia de orvalho provocado pelo primeiro nascer do sol
E o meu coração ainda ouve o choro da criança desconhecida - hoje tão conhecida, que sorrir quando me ouve falar.
É um cheiro do cachimbo que se expande no ar e ainda reclama de passados que já não voltam mais.
É, só um vento, uma ave, uma pena, uma pétala a fumaça e a lua.
É o prédio cheio de vazios e o desencontro de ter invadido e morado em tantas casas, estas já nem me lembro mais. Acho que ouvi isso na voz de um um poeta.
Somos apenas sombras de canções, de cartões trocados, amores inacabados e novas gerações.
Ainda no quinto andar, ainda buscando a vida no silêncio que grita daquela caixa de joias de uma senhora que mesmo depois de ter ido, continua sendo mãe e amuleto.
Sou apenas o vento que sopra todas as lembranças quase que escondidas, quase que saudosas, quase que esquecidas na manhã do café doce demais, melão maduro e uma camisa verde cana que combina com uma calça lilás.
Sou apenas a foto daquela camisa desgastada, o vestido preto e branco e o Belchior no canto, autografado e amado.
É, de fato, é só um vento lá fora.