São 4h horas e não consigo domir. Meu celular toca e, dessa vez, eu corro desesperada para atender. "Número desconhecido", quem será que me liga a essa hora? Ao atender, ouço somente uma respiração seguida de um "alô" quase sussurrado. É você. Meu coração dispara, parece me machucar. Abraço o travesseiro porque sinto que ele bate tão forte, que você poderá ouvir. Eu digo, de uma forma quase fria:
- Oi, aconteceu algo?
- Sim, aconteceu!
- O que?
- Percebi que estou sem você!
Silencio. Era tudo o que eu queria ouvir, mas não acreditava que sairia da sua boca de uma forma tão sincera, aparentemente.
- Preciso te ver, por favor. Eu te imploro.
- Olha J., eu não sei se isso vai terminar bem, você não pode ficar brincando assim.
- Eu não brincaria com alguém que amo.
- Onde você quer me ver?
- Vamos caminhar na praia?
- Pode ser. Que horas?
- Eu te pego na sua casa, afinal, pela manhã não tem ninguém aí não é?
- Então vou te esperar. Até amanhã.
Se eu não estava conseguindo dormir, pode imaginar após sua ligação? Meus olhos lacrimejavam ao imaginar nossas mãos finalmente cruzadas, traçando nosso caminho na praia e, talvez, em qualquer outro lugar.
Amanhece. Às 8h, você me manda uma mensagem, avisando que chegará em menos de cinco minutos. Ansiosa, já estou pronta e com tudo arrumado. Devagar, seu carro para na porta. Notei que você colocou vidros fumê. "Por que esse mistério?". Você desce o vidro do banco do carona, olha pra mim todo sorridente e me chama. Tento ficar séria, mas a tentativa é vã. Entro no carro, e você me cumprimenta. Segura meu queixo e me beija. Apenas correspondo. Sem graça, eu te digo para se apressar. Não quero que os vizinhos comentem depois.
Chegando na praia, você segura minha mão. Caminhamos como namorados. Parece um sonho. Tudo ocorrendo bem, da forma que eu sonhei. Você me segura pela cintura, me abraça e, baixinho no meu ouvido, diz que me ama e que nunca me esquecerá. Tento entender a frase, mas você me beija e desta vez eu não queria pensar em nada. Sinto que será nosso último beijo. Ficamos tanto tempo lá, segredos que só o mar e nós saberemos. Após alguns minutos, você olha em meus olhos e diz:
- Ellen está grávida, e o pai dela disse que ela deve casar.
Ellen, sua namorada, parece que ainda existe... e eu perderei você.
- Hã? Então porque você fez esse dia se tornar tão ...
Você não permite que termine a frase, e diz:
- Eu te amo. Eu te amo muito, e tinha que me despedir de você porque casarei amanhã.
Sem fôlego, perco o chão. Sem jeito, tento pensar, mas não consigo. Todas as cenas inundam a minha cabeça, e eu não consigo falar nada, apenas te ouvir.
- Casarei com ela amanhã e vou morar na cidade do pai dela que fica a mil quilômetros daqui. Mas deixarei com você o meu coração.
Mando você ir embora. Sem pensar em mais nada, eu pego um táxi e peço pra me deixar no parque. Me deito na grama e começo a pensar. "Eu te perdi".
Você me liga desesperado, perguntando onde estou. Decido fazer esse dia terminar totalmente bem. Mesmo sabendo que seria o nosso último dia, mando você ir até o parque. Passamos os dias juntos. Celulares desligados. Somente nós dois.
Conversamos, nos divertimos e fizemos tudo que devíamos fazer, como se nada fosse acontecer amanhã. No carro, o último adeus. Minhas lágrimas caem, e as suas também. Mas dou um último sorriso alegre, e você também. Um mês depois recebo uma ligação da sua mãe me informando que você havia falecido devido a um câncer que não queria que eu soubesse. Você não queria me ver sofrer. Ela me diz que você havia deixado cartas, fotos, tudo de nós dois numa caixa, e que eu deveria ir buscar...
Nesse momento, paro e percebo. Eu realmente te perdi.
Silenciando minha voz, meu coração e minha vida, escrevo na parede do seu quarto:
"28/05/2001. Será eternamente nosso segredo."