6 de maio de 2019

Espadrapo e merthiolate

Houve um tempo em que o cheiro de cachimbo, misturado com a mania de estudo, somado a facilidade de aprendizado era tudo que eu precisava.
Houve um tempo em que gritos, chegadas tardias era tudo que eu não precisava.
Chegou ao ponto que somente a parte ruim, por mim, era recordada.
Embora me sentisse sozinha estando acompanhada, ao redor eu sentia que meu mundo desabava.

Eu nunca entendi direito o que devia ser perfeito apenas ressaltava defeito de duas vidas, que o destino unia.
E de duas se tornaram quatro que viviam num curto espaço repleto de amor e agonia.
Um herói que largava a capa, uma rainha que deixava a coroa,
Embora duas pequenas vidas sofressem a toa, sem nem saber o que o destino reservaria.

Ainda existe um poço de dor, de ressentimento, de descontentamento com tantas ruínas que o destino deixou para trás,
Ainda sinto resquícios de um amor que não retorna mais,
Ainda habita em meu coração uma lembrança boa preenchida de razão que contempla os caminhos separados,
Mas o destino sabia que até meu coração tinha sido separado?
Não sei, não consigo entender.

Ainda me recordo dos perfumes, cremes, roupas estampadas, calças bem passadas e risadas abafadas na hora de dormir,
Me vem a memória uma mesa recheada, algumas fotos rasgadas e uma decepção que me tirava até o direito de sorrir,
Via todo dia uma imagem que se foi, via todo dia uma rotina que não queria.
Embora estivesse acompanhada, me sentia tão sozinha,
Mesmo sabendo que ao meu lado alguém sentia uma dor igual a minha,
Que se fortaleceu pra equilibrar, mas não imaginava o quanto a força poderia afundar e soterrar raivas não sentidas.
Ainda lembro de portas fechando, gritos, frutos do mar e partidas.
Ainda me dói a dor de ter dado um pause seguido de stop de duas vidas.